A excelência da cozinha nortenha, de abundantes e saborosas iguarias, possui pergaminhos de longa data e tal é a sua fama que não passa forasteiro que dela não leve grata recordação, caso seja, como bom gourmet, apreciador de pratos de apurado paladar.
Mas, se na cidade existem numerosos restaurantes que timbram em bem servir e em manter, orgulhosamente, as tradições do porto, poucos são aqueles que, sem deformar a culinária regional, souberam quebrar o ambiente provinciano ou popular, de modo a rodear a clientela com o conforto próprio dum estabelecimento moderno e requintado.
No intuito de justamente, suprir essa lacuna foi que o conceituado e experimentado industrial, António Joaquim da Silva abriu “O Escondidinho”, em 12 de Dezembro de 1931, a mais elegante e característica boite que o Porto dispõe para satisfação duma freguesia seleccionada, onde não faltam os elementos mais preponderantes da colónia estrangeira e todos os turistas de alta categoria que passam na cidade.
Conhecedor profundo do seu métier, Amarilio José Peixoto Barbosa procura e consegue criar um estabelecimento fora da rotina comum, moldando-o em normas absolutamente originais.
Sendo, como alguns outros, um restaurante de luxo, “O Escondidinho” difere deles peia atmosfera familiar que caracteriza as suas linhas.
Modelada segundo o estilo das velhas casas solarengas do Norte de Portugal, a sala de jantar, reproduz, na sua traça, o aconchegado conforto das residências do século XVIII, a que não falta, sob os tetos apainelados, a pujança ornamental das antigas faianças nacionais e os vistosos lambris cerâmicos, imitando a escola de Delft, cujos azulejos sobressaem pela extraordinária beleza.
O projecto de Amoroso Lopes, habilmente executado pelos Grandes Armazéns Nascimento, é de notável concepção artística, destacando-se a fachada na qual, como nos interiores, se revelam trabalhos valiosos da Fábrica Constância, dirigida então por Leopoldo Battistini.
Amarilio Barbosa, soube também dar continuidade ao mais apurado bom gosto na ementa do seu serviço, não poupando sacrifícios para tornar primorosa a cozinha do “Escondidinho, sem dúvida a melhor que se pôde encontrar no Porto sob todos os pontos de vista.